sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Pesadelo (Tiago e Bruno - C12) com aujda de Rômulo Benk (amigo)

 O Pesadelo 

   Minha tataravó morreu em uma manhã cinza de inverno, havia algum tempo que ela vinha reclamando de dores no peito, mas o médico pouco pode fazer para ajudá-la. A medicina naquela época ainda era muito precária, as pessoas tinham que confiar somente no olho clínico do médico. Fizeram  o velório ali em sua casa, como era de costume, e a enterraram antes de a noitecer .
    Meu tataravó, desolado, voltou para sua  casa, a morte levou sua parceira de tantos anos e agora ele seria um solteiro e sozinho já que os filhos eram adultos, casados e cada um tinha sua própria vida. Já era de noite  quando ele estava na cozinha, iuluminada somente por um lampião e algumas velas acesas na mesa de jantar, tentando fazer algo para comer no fogão alenha .
    Foi quando escutou minha tataravó chorando no quarto e chamando seu nome. Era um choro misturando com gemidos de medo e enquanto ela chamava o nome dele, gritava: "Emiro, me ajuda" e mais choro. Ele ficou parado sem fazer nada por alguns minutos até que criou  coragem, pegou o lampião e foi andando devagar até o quarto.
    À medida que ele se aproximava, o choro parou completamente, ele iluminou o quarto vazio e se apavorou ao ver que a cama estava bagunçada, mas ele tinha certeza que tinha arrumado-a antes de ir ao enterro. Quando ele virou de costas para voltar à cozinha, o choro começou  de novo, ele colocou  a mão com o lampião para dentro do quarto, mas pouco pode ver, pois, a luz era muito franca para iluminar todo o ambiente. Foi andando em direção à cama, passou  tentando ver algo, aí primeira coisa que viu foram as pernas da minha tataravó, estavam cinza  e se contorciam  na cama, meu tataravó teve vontade  de iluminar o resto do corpo, mas o medo falou mais alto  e ele saiu correndo em direção  a cozinha. A voz fraca que dizia: "Emiro, me  ajuda... " foi silenciando até se calar por completo .
    Meu tataravô saiu da casa e ficou na varanda por horas, sentado em sua cadeira e fumando seu cachimbo, nervoso e aterrorizado com os acontecimentos. Não tinha coragem de voltar para a casa de um dos filhos porque eles moravam longe e acabou pegando no  sono já em alta madrugada.
    O pesadelo que se seguiu foi horrível minha tataravó estava viva dentro do caixão, arranhando a tampa, tentando cavar uma saída enquando suas unhas se desprendiam da carne e sua boca buscava  o ar que não tinha mais no caixão .
    Pouco a pouco ela foi perdendo as forças até que seus olhos se arregalaram e seu corpo deixou de buscar oxigênio.
     Ele acordou na varanda, sufocando como se ele mesmo estivesse dentro do caixão. Desesperado, o pobre rolava no chão em busca do ar que aos poucos foi lhe voltando. Quando estava mais calmo e, controlado, decidiu ir até a casa de um de seus filhos e contar o ocorrido. Foi até a casa do tio -avó Ramiro que o alcalmou dizendo que eram somente sonhos e que ele estava impressionado por causa de sua recente perda.
    Não satisfeito, ele foi até o delegado da  cidade e pediu a exumação do corpo que lhe foi automaticamente negada por não haver nenhuma razão convincente, além de uma visão ou pesadelo, como todos acreditaram.
    Nos próximos dias, ele teve o mesmo pesadelo e cada vez parecia ser mais real e todos os dias ele voltava à delegacia para pedir a exumaçao do corpo que continuava sendo negada.
    Foi assim, até no dia em que, chorando de desespero, na frente  do delegado, este lhe concedeu o pedido. Quando abriram o caixão, todos gritaram de terror, tudo estava como meu tataravó tinha sonhado:
    A tampa do caixão arranhada, minha tataravó sem unhas, com a boca  e os olhos escancarados. Enfim, descobriram que o pesadelo era, na verdade, um pedido de socorro de minha tataravó que havia sido enterrada viva....    

Nenhum comentário:

Postar um comentário